quinta-feira, 25 de julho de 2013

Apresentação de palhaço em comunidade indígena.


Palhaça CHIMOMI 
em
CHIMOMI na Tekoa
Uma apresentação Clownesca numa 
Comunidade Indígena!

Num domingo chuvoso em Ubatuba, cidade do litoral norte de São Paulo, ocorreu um inusitado episódio: uma apresentação de clown numa aldeia indígena.
  
Dezembro de 2012. No cume de uma montanha na Mata Atlântica, no Sertão do Promirim, fica a Tekoa Jaexaa Porã, que ali chegando torna-se dispensável explicar o porquê “Aldeia Boa-Vista ser a tradução para o português.

E lá fomos nós: Ceci com seu esposo, Wiliam - que alegremente acataram a minha idéia da apresentação -, e eu com toda minha parafernália cênica. Agradeço vocês por terem topado a rara empreitada comigo!

Wiliam cuidaria das fotos, e Ceci (que desenvolve um trabalho de pesquisa na área linguística sobre a tradição oral com a comunidade) já havia explicado e conversado com as lideranças pertinentes. Num primeiro momento eles não compreenderam claramente do que se tratava, que depois fui compreender o motivo, mas se interessaram pela idéia de uma apresentação para as crianças na aldeia. 

Chegamos e encontro um abraço carinhoso da matriarca da etnia, Dona Jandira Rosa Paraguassu. Uma das jovens lideranças, Mario K. Tataendy diz que não estava sabendo e que não poderia ficar.

Chove aqui, senta acolá, espera um pouquinho ali... tudo sem nenhuma pressa... passa cachorro, galinhas com seus pintinhos; e vejo surgir uma criançada curiosa mas hesitante, não se aproximam muito de mim.
Não pudemos conversar: em função da idade as crianças ainda não foram alfabetizados na língua portuguesa. Soube que elas pouco saem da Aldeia, que o professor bilíngüe é um membro da própria comunidade e a escola estadual ali possui verba federal. Aquelas crianças conhecem o guarani. E eu não.

Definido o local, um pequeno galpão semi-abandonado em que funcionava o ex-centro comunitário, levo minha roupa e maquiagem para a “oca” de alvenaria mais próxima, onde me apronto... e intuitivamente não carrego na maquiagem.

Começa a música de entrada, selecionei um chorinho de Chiquinha Gonzaga.  
Caminho clownescamente pelo mato e pela chuva em direção ao galpão.
Que surpresa! As crianças nunca viram um palhaço e se assustam com a minha chegada: fecham os olhos, viram a cabeça, escondem o rosto com as mãos...

Clown CHIMOMI se assusta com o susto de ter assustado!


E continuo: elas desviram a cabeça, abaixam as mãos, começam a olhar para mim...
Mantenho: pandeiro, música, bola de contato, expressões. Pantomima.
Meu personagem nada verbaliza.
Vejo os risos, os sorrisos com monossilábicas expressões de surpresa.... elas começam a imitar meus gestos e expressões faciais!






Quarenta minutos depois retorno à “oca”, finda a apresentação. 
Me troco e desfaço a maquiagem.
Volto ao galpão.

Ceci, interrogada por Dona Jandira quer saber a respeito de cesto que uso em cena. Segundo D. Jandira cesto daquela região não era, e disse ainda que, pelo tipo de material e feitura, foi confeccionado pelo subgrupo da etnia guarani que habita o norte do Paraná.
Eu, impressionada com a pergunta, confirmo a resposta: o cesto foi presente de minha irmã Fábia, que naquele estado vive com meu cunhado, e lá comprou dos próprios índios o artefato.

Sento no chão, próximo às crianças, que me sorriem. Sinto que todo meu corpo também sorri: elas se aproximam e tocam minha boca, meus olhos, meus cabelos, pegam meus óculos. Sobem no meu colo, abraçam minhas pernas e braços... me mostram os brinquedos delas, querendo que eu os segure. Naqueles instantes nada falamos e muito brincamos!!!

D. Jandira me sorri. De fala sucinta, mansa e sincopada, diz que ela e as crianças gostaram da apresentação. Eu também! E muito!




Até onde se sabe, nunca antes ocorrera nenhum tipo de apresentação na Aldeia, ninguém antes fora ali com este intuito. As crianças viram uma apresentação pela primeira vez, e aí entendi o susto inicial com o palhaço, com a musica, com meus objetos cênicos.
Tomara que demais pessoas, artistas ou não, abram espaços - primeiro dentro de si! - para que possam acolher a alegria de aprender ali o que com eles aprendi. 



A todos, 
muito obrigada por isto,
a´evete

Flávia Cunha
Bahia, Fev/2013



OBS: As belas imagens foram registradas pelo Wiliam, e editadas por mim.
Também acrescento uma nota que Ceci me enviou:
“Não há um consenso na ortografia das línguas indígenas; é um processo em construção. Portanto, vamos encontrar diferentes formas de grafar as palavras, dependendo do dialeto dos subgrupos e dos critérios de descrições linguística”.
Sobre um dos trabalhos de Ceci com etnias indígenas, acesse:


Para saber mais sobre Palhaça CHIMOMII: 
http://flaviacunhaflavia.blogspot.com.br/p/palhaca-chimomi.html





4 comentários:

  1. Que lindo trabalho, Flá! E que belo depoimento!
    Bjs e saudades,
    Regina Teixeira

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  2. Oi Flávia Cunha.
    Sempre mudando as receitas da vovó.
    bjbjbjbjbjbjbjbjbjbjbj

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    1. Valeu capitão!!! Urge nos reinventarmos, não é mesmo?! Super beijo, Flávia.

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Obrigada por deixar sua mensagem! Flávia Cunha